15 junho, 2010

Os casos

No vocabulário nacional, existem palavras e expressões complicadíssimas, ao ponto de deixar o comum dos mortais, os estrangeiros, com sérios problemas psicológicos. E quando digo os estrangeiros são meros mortais, não é a minha intenção desprestigiá-los, pelo contrário. Em Portugal, quem sobrevive mental e economicamente é um herói, direi mesmo um super-herói.

Como dizia há pouco, nacionalmente há expressões bem lixadas, com tantos sentidos que ficamos totalmente desorientados. O vocábulo "caso" é um desses casos, assumindo os mais diversos significados consoante o contexto em que é aplicado. É um caso sério de complicação linguística que apenas portugueses conseguem descodificar. Como é que querem que um estrangeiro perceba a portuguesada!?

Antes de referir o caso do dia, vou exemplificar algumas dessas expressões, só para que não fiquem com cara de caso. Por exemplo a expressão “sem nada”, na nossa portugalidade, ficar “sem nada” é perder tudo. Mas será que os estrangeiros assim o entendem. Desconfio que para eles, ficar “sem nada” é o mesmo que ficar “com tudo”, visto que estes dois vocábulos associados são contraditórios. Realmente ficar sem o nada, é o mesmo que ficar com tudo. Nada estúpidos, estes estrangeiros! Existe também a questão frutífera, se a maçã vem da macieira, a pêra da pereira e a cereja da cerejeira, porque raio a azeitona vem da oliveira e não da azeitoneira?

Mas voltando ao caso de hoje, e ao uso da palavra caso em diversas expressões da língua portuguesa, pode provocar, e é caso para dizer, um caso sério de desentendimento. Por exemplo, ter um caso implica inevitavelmente a presença de alguém que partilha esse caso. Ou seja, para se ter um caso, nunca pode tê-lo sozinho. Quando se consegue ter um caso sozinho estamos indubitavelmente perante um caso clínico. Ter um caso é, supostamente, algo que não é sério. Logo quando falamos em caso sério, estamos a falar de relações casuais entre pessoas. Porque se fosse sério não seria um caso, mas sim, uma relação. Neste sentido posso afirmar que qualquer caso sério é uma relação. Para manter uma relação durante algum tempo é fundamental fazer muito caso. Não fazer caso é o que tem de evitar a todo o custo.

Estar a trabalhar num caso, pode implicar um desenvolvimento profissional ligado à área jurídica, ou de investigação policial, mas não implica forçosamente uma tentativa de espalhamento de magia.

O caso é usado num contexto causa/efeito é o determinado caso para isso. Imaginando que descobre que sua mulher teve um caso com o carteiro. Decerto que ficava muito enervado, achando que aquilo é um caso sério. A vontade que tem é soltar os cães sempre que esse sacana de capacete que aproxima da sua casa. Mas como tem medo que aquele cabrão montado numa vespa (e na sua mulher) atropela os seus chiuauas, pede conselho aos seus amigos. É nessa altura que um dele lhe diz “Não é caso para estares assim! deixa lá as coisas connosco, um dia destes armadilhamos a mota dele”. Se o cornudo não fizer caso, no dia seguinte a polícia vai trabalhar no caso da mota que explodiu quando se aproximou dos chiuauas. Acham que um estrangeiro consegue perceber isto?

Cabeça Suja… com um caso sério que o deixou com cara de caso. Era caso para tanto? Talvez! Mas se calhar é melhor não fazer caso!

M@rkito ®

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