30 agosto, 2011

Técnico Conselheiro de Assuntos Gerais (Vidente)

Há dias encontrei um colega de faculdade. Ele não tinha mudado nada, continuava o mesmo feioso de sempre, mas a sua vida tinha dado uma grande volta. O rapaz que andava de 4L passeava agora de Mercedes e aquele que todas rejeitavam, estava agora casado com uma supermodelo. Por breves instantes, até o invejei, mas quando soube que o seu sucesso era sinónimo de muito trabalho, a inveja desvaneceu rapidamente.

Eu queria ser como o meu colega, ter dinheiro, namorar com uma supermodelo, mas sem ter de trabalhar. Como fazê-lo? Em busca de uma solução fácil pus o meu tremendo intelecto a funcionar e depois de breves instantes de reflexão (1 ano, 7 meses, 3 semanas, 4 dias e 15 horas), tive uma ideia de génio: ganhar o Euromilhões. Para não gastar demasiado tempo e dinheiro em tentativas infrutíferas em busca da chave dourada, pedi ajuda ao melhor conselheiro possível e imaginável: um vidente. Nunca ganhei nada, mas o contacto com o mundo do oculto fascinou-me e foi assim que me tornei vidente.

Depois de alguma formação (10 minutos de workshop), montei o meu próprio negócio. Demorei pouco tempo até receber os meus primeiros clientes. Fiz As minhas primeiras consultas na cozinha, mas depressa tive de arranjar outro local. A minha mãe dizia-se incomodada com a presença de estranhos, enquanto cozinhava.

Pouco depois o meu consultório passou para o quintal. Ultrapassado o problema da falta de electricidade (benditas extensões), pude finalmente a bola de cristal. Como não é nada evidente ser vidente com o nome M@rkito, decidi renomear-me e passei a ser Prof.M@kimba. Muito mais convincente! Aproveitei a mudança e também alterei a minha designação profissional e passei a ser Técnico Conselheiro de Assuntos Gerais, porque no fim acabo por dar conselhos de tudo e nada com alguma técnica (há quem lhe chame dom!).

Cabeça Suja… com a bola de cristal desligada

M@rkito ®

Como alguns de vós, não estão familiarizados com a arte vidência, achei que era melhor transcrever a primeira consulta de dois clientes habituais, um casal, o João e a Joana. Como é óbvio são nomes fictícios, não seria muito profissional da minha parte dizer que na realidade trata-se do Edgar e da Sófia.

Prof.M@kimba: Bom dia!
João e Joana: Bom dia Marco!
PM: Eu não sou o Marco! Sou o incrível Prof.M@kimba!
JJ: Ok! Podias ter dito logo! Não somos videntes!
PM: Nem eu! E o que vós traz cá?
JJ: Não sabes? Mas que raio de adivinho és tu?
PM: Eu não sou adivinho, sou Técnico Conselheiro de Assuntos Gerais! Mas sei que hoje discutiram!
JJ: É verdade! Como é que sabes?
PM: Através do meu dom e do meu ouvido!
JJ: Como assim?
PM: Discutiram antes de entrar na tenda!
JJ: Que mais nos podes dizer sobre nós?
PM: Não muito! Nunca mais actualizaram os vossos perfis no Facebook! Vamos agora utilizar estas cartas!
JJ: Mas também fazes cartomancia?
PM: Não! É para jogarmos à bisca enquanto a bola de cristal aquece. Pus uma lâmpada economizadora e esta porcaria demora até estar bem acesa.
JJ: À bisca?
PM: Se quiserem podemos jogar à sueca. Tenho de ir chamar a minha mãe.
JJ: Faz isso!


Fui chamar a minha mãe e quando voltei, eles tinham desaparecido... Mas voltaram em busca de respostas às quais fui incapaz de responder. Dessa vez...

26 agosto, 2011

As obras


Conseguir acabar definitivamente com as obras, seria uma loucura, mesmo um parvo como eu, sabe que sem obras, a minha futura mansão com piscina, provavelmente um T0 com uma banheira no meio nunca existirá.

 O que pretendo, e acabar com o tipo de obras que temos em Portugal. Aquelas que representam o paradigma nacional no seu esplendor. As obras em solo nacional são um verdadeiro bico-de-obra, muito por culpa daquela seita que dominava a construção civil (empreiteiro, pedreiro, canalizadores, pintores e electricistas).
O grande Guru da construção civil, o empreiteiro, distingue-se dos restantes devido a dois adereços que ostenta, o crucifixo e o telemóvel-tijolo. Com o crucifixo agradece a Deus por todos aqueles empregados que explora, e os clientes que engana, guardando religiosamente o dinheiro de ambos. O empreiteiro está sempre armado do seu famoso telemóvel-tijolo, espécie de identificação estatutária, através do qual contacta regularmente com seus capangas para que no assustem os seus trabalhadores ilegais.

Em Portugal, o que determina o fim de uma obra, não o término do último acabamento mas sim o esgotamento da paciência ou do dinheiro (talvez dos dois) de quem paga. As obras nacionais têm o condão de deixar o país num estado inacabado.


Tratar o construtor civil com profissionalismo é conseguir que a sua obra demora, no mínimo, o triplo do tempo previsto. Os germânicos encontraram a solução perfeita para os nossos problemas obreiros, o contrato penalizador. Este determina um prazo para a obra e por cada dia de atraso é paga uma determinada quantia. Remédio santo. Mesmo que não consigo acabar as obras, farei certamente um belo pé-de-meia com o dinheiro das penalizações e poderei fazer coisas que não estavam previstas. Talvez viajar.



Cabeça Suja... a viajar



M@rkito ®

24 agosto, 2011

As caracoladas

Há dias fui convidado para uma caracolada. Fiquei logo intrigado, nunca tinha ouvido falar disso. Pesquisei na NET, e descobri que as caracoladas são petiscos com caracóis. Quando soube isso, tentei escapar a essa pesticada alegando um encontro amoroso de última hora. Ninguém acreditou em mim, porque supostamente ninguém do seu perfeito juízo sairia comigo. O que é a mais pura das verdades e daí os meus encontros serem sempre com alguém saído do manicómio. Tanto insistiram que acabei por aceitar o convite, mas confesso que comer caracóis não me fascinou muito. Já se imaginou a comer os cabelos do Marco Paulo? Fiquei um pouco aborrecido de cancelar o encontro com a Sónia, ia ser a nossa primeira vez…sem o colete-de-forças.

Como gosto sempre de levar alguma coisa quando sou convidado, fui ao mercado em busca de vinho contrafeito. Aproveitando a sabedoria mercantil, tentei dissipar as minhas dúvidas relativamente aos caracóis. Os feirantes foram muito prestáveis, e a troca de muitos euros, explicaram o que são caracóis e nada têm a ver com cabelos.” Mas afinal o que é um caracol?” Perguntei eu. Um gentil feirante, com o nome Lelo da Purificação, rindo-se (talvez por estar familiarizado com a espécie) respondeu: “São aqueles bichos que andam com as casas às costas!” “Ciganos!? (Foi a primeiro coisa que me veio a cabeça, depois dos seios da Sónia que imaginava através do colete-de-forças) Eu não sou canibal!”. Com essa afirmação, o olhar gentil do homem tornou-se hostil, e percebendo que o mercado se tornara num lugar aterrador, preferi pôr-me na alheta.

Quando cheguei a casa dos meus amigos para a tal caracolada, alguém teve a bondade de me mostrar o pitéu. Assim percebi que mesmo sendo animais com cornos, a minha refeição não iria ser bifes. Afinal, ia comer aqueles ranhosos. Eu não percebo porque não disseram desde o início que ia comer lesmas com casca, tinha evitado muitas chatices.

Depois de saber, realmente ao que vinha fiquei logo enjoado. Alguns dos meus amigos alegaram que os caracóis (chamem-lhes o que quiserem) são muito mais asseados que as galinhas. Dizem que este animal, ao contrário dos galináceos, nunca pisa porcaria. Ele desvia-se. Pudera, como pode pisar alguma coisa se não tem pé, nem patas. As galinhas podem pisar aquilo que quiserem, eu deixo sempre as patas para os outros. Para ser franco o termo caracolada, também não me tranquilizou muito. Caracolada soa-me a bacanal de caracóis, e como sou um rapaz simples que não gosta de misturas, optei pelo frango no churrasco.

Cabeça Suja… a tentar tirar o colete-de-forças da Sónia

M@rkito ®

Vendedor de flores

Há dias, estava a passear na rua quando fui acostado por desses vendedores de flores que assolam as noites portuguesas. Vendedores de flores? Sim senhor! O termo é mesmo esse. Aqueles senhores que percorrem as ruas em busca de potenciais clientes para suas flores, e por vezes aquelas luzes psicadélicas, são vendedores de flores. Os outros que vendem flores através de uma banca ou de uma loja são os floristas.

Estes vendedores, os “Kê-Frô”, deslocam-se durante a noite, em busca de casais para impingirem as malditas “frô”. Munidos de uma extraordinária visão nocturna caçam de forma implacável, prováveis casais. Se estiver a menos de dois metro de uma mulher, do nada surge o sujeito com a sua desconcertante, mas esperada pergunta: “Kê-Frô?” Não tenho nada contra vendedores ambulantes, vendem aquilo que quiserem: aspiradores, bíblias, colchões, luz psicadélicas, mas não importunam constantemente o pessoal com a porcaria das “frô”.

Como referi há pouco durante o meu passeio nocturno, fui acostado por um “Kê-Frô”, isto porque como dita a regra de ouro destes vendedores, estava perto de uma mulher, sensivelmente um metro atrás dela. Estive a noite toda, um metro atrás dela, de bar em bar mantive sempre a mesma distância. A perseguição até estava a correr bem, até o “Kê-Frô” ter denunciado a minha presença. Nesse momento, o namorado saído de não sei onde teve a amabilidade de me espancar.

Como não sou vingativo, e não fiquei ressentido com o “Kê-Frô”, acabei por comprar a quase totalidade da sua mercadoria, para colocar num jarro do meu quarto no hospital e quem sabe para oferecer a uma enfermeira ou outra.

Cabeça Suja…com frôs no hospital

M@rkito ®

22 agosto, 2011

A.P.P.P.P. (Associação Portuguesa para Potenciar a Potencialidade do Potencial)

Em todos os países, existe a questão fulcral. Aquela pergunta que define uma nação. Em frança, questiona-se o propósito do bidé? Nos Países Baixos, discute-se qual a melhor planta para símbolo nacional, a tulipa ou o cannabis? Em Portugal, debate-se a questão do potencial.

Em Portugal, quando proclamamos que alguém tem potencial, significa que num futuro mais ou menos próximo, vai tornar-se em algo que não é. Na verdade falar do potencial dum individuo, é uma forma simpática de dizer que neste momento não tem aquilo que é necessário. Até poderá vir a ter, mas no momento não o tem. E como dizer a uma mulher que tem de ganhar tomates para efectuar algumas tarefas. Talvez os tenha no quintal, ou talvez os possua pontualmente. Mas para ser uma mulher de tomates, para que ganha-los efectivamente falta muito. Aliás, é preciso muita sorte para que acerte na chave do Euromilhões e ganhe o dinheiro necessário para ir a Cuba e implanta-los. É a teoria do “Poderia ter sido, mas nunca o foi” em todo o seu esplendor.

Portugal, é um país cheio de potencial. Poderíamos ter domina o Mundo e os Sete Mares. Poderíamos ter ganho o Europeu de Futebol de 2004. Poder, podíamos, mas certamente não seria a mesma coisa. Mas nada de aflições potencialmente lá chegaremos. O propósito da A.P.P.P.P. é justamente esse, fazer com que lá cheguemos. Mal seja que com tanto potencial não consigamos.

Cabeça Suja… com muito potencial

M@rkito ®

19 agosto, 2011

Porque é que as mulheres podem levar sais para o trabalho e continuam formais, mas os homens de calções são informais?

Nunca percebi porque não posso usar calções no escritório. A maior parte do tempo vou lá fazer turismo. E porque as gajas podem ir de saia e eu não? Convenhamos que ir de saia para o escritório seria um bocado estranho. A não ser. A não ser que eu fosse escocês e o escritório fosse em Escócia. Nesse caso, ir de saia (ou kilt) seria um gesto bastante patriótico. Tão patriótico como ir embriagado para o emprego, após consumo massivo de Vinho do Porto, cerveja Sagres, tudo tenha álcool e seja nacional. Como seria bonito chegar ao trabalho um pouco enjoado, mas entoando o hino nacional. Não acham?

Sinceramente, não entendo a descriminação relativamente a roupa no trabalho. Um gajo de calções distrai o resto do pessoal? Mas uma gaja de saia, não? Há dias, a Inês foi com uma saia tão curta, mas tão curta, que quase se via a cor das cuecas (Há anos que tento vê-la, mas ainda não foi desta que consegui). Aquilo nem era uma saia, mais parecia um cinto. Pensando bem, aquilo era mesmo um sinto. Provavelmente, embebida em patriotismo, esqueceu-se de pôr a saia. Eu sou de opinião que se deve banir o uso de cinto nos escritórios. Usa-los torna-se num acto contraproducente. Devido ao cinto da Inês, passei mais tempo na casa de banho do que a trabalhar.


Tentei perceber de que forma os calções podem ser prejudiciais num local de trabalho, mas sinceramente não a razão de tanta inconveniência. Penso que este mito urbano existe devido a um energúmeno qualquer que um dia se lembrou de ir para o trabalho de calções. Talvez o paspalho do chefe não gostasse do que viu e desde aí, é mau levar calções. Mas qual a razão desse desagrado?

Será que o gajo tivesse tantos pêlos nas pernas, mais parecia um macaco, que a chefia e os colegas passaram o dia a mandar-lhe bananas, tornando o dia improdutivo (menos para os produtores de bananas)? Talvez estivesse num estado tão patriótico que pensou levar calções, mas afinal não tinha nada vestido? Possivelmente o problema nem foi dos calções, mas dos adereços que os acompanha, as t-shirts de manga-a-cave. Estas últimas têm a particularidade de deixar os sovacos ao leu, e ninguém vai trabalhar para aguentar os sovacos dos outros e dos cheiros que emanam. Não se podendo proibir os sovacos, proibiu-se os calções. Faz todo o sentido. Não?

Cabeça Suja… a trabalhar de calções

M@rkito

Este tema foi proposto pelo Edgar e a Sofia.

18 agosto, 2011

Adepto de Futebol

Todos os anos, por esta altura e quando a época desportiva está a despontar, uma espécie curiosa do mundo animal acorda dum estado de hibernação. O nome desta espécie é adeptus fanaticus, mais conhecida como adepto fanático.

Antes de acordar totalmente, o adepto fanático sai lentamente de letargia durante um período específico do ano que começa quase sempre em Julho, a pré-epoca. Ele só volta a hibernar meses depois, no final de Maio. De dois em dois anos, o período de hibernação é mais curto devido às chamadas competições internacionais.

Dificilmente O adepto fanático passara despercebido. Para além das camisolas, gorros, cachecóis e outros adereços com as cores do clube, esta espécie apresenta quase sempre olhos vidrados. Para ele, a única coisa importante da sua vida é o futebol. Qualquer outra coisa, tais com o trabalho, os filhos ou a mulher são conceitos desconhecidos.

Vemos raramente o adepto fanático sozinho. É um animal de companhias, gosta de estar rodeado. Para encontrá-lo basta ir a um estádio, o seu habitat natural, mas também podem ser vistos em esplanadas e cafés. Apesar de amistoso, semanalmente e durante cerca de hora e meia, transforma-se numa verdadeira besta agredindo verbalmente todos aqueles que não ostentam as mesmas cores. Principalmente os que vestem de negro.

Todos conseguimos ter um adepto fanático nas nossas famílias. São de trato fácil. Alimentam-se apenas com tremoços e cervejas. Quando bem domesticados, já nem frequentam estádios, uma transmissão televisiva ou um relato basta.



Cabeça Suja… a ouvir o relato

M@rkito ®