14 setembro, 2009

P.A.



Hoje fui a minha primeira reunião dos P.A., os Paranóicos Anónimos, mas não sei se volto lá. Senti-me muito observado. Eu sei que estávamos sentados em roda, mas não tinham de olhar todos para mim. Ou tinham? E quando não olhavam directamente para mim, viravam os olhos para o chão só para verem os meus pés. Cambada de maluquinhos! O que achei estranho, é perguntaram-me o nome, não era suposto sermos anónimos? Ainda por cima quando estava a limpar os óculos, alguém me perguntou: “Tens os óculos sujos?”. Eu percebi logo que estava a acontecer. Eles estavam ali para me sacarem informações. Às tantas são amigos do gajo que me assaltou a casa. Alias, foram esses assaltos que me levaram a inscrever-me nesta associação. Eu nem sou paranóico mas o meu psiquiatra obrigou-me, vá-se lá saber porquê. Isso tudo porque lhe contei que me andavam a perseguir a meses. Eis o que aconteceu:


Tudo começou a meses quando num dia ao acordar sinto uma dor no colhão esquerdo, sempre sinal de mau presságio que se verificou minutos depois quando a dor se estendeu ao colhão direito. Como estava atrasado, decido de comer um iogurte para ser mais rápido, vou ao frigorifico buscá-lo mas a maionese estava a frente. Agarro no frasco e pumba, ele cai. Como é obvio sujei me todo e tive de ir mudar de roupa. Se estava atrasado mais atrasado fiquei. Quando me dirijo ao carro vejo que tem um pneu furado, mas como não tinha tempo para mudar a roda, decido pôr-me a caminho do trabalho usando mais antigo meio de locomoção de sempre, os pés. Então não é que começa a chover. Há quem diria que estava com pouca sorte, mas eu percebi logo o que estava a acontecer. Eu estava a ser vítima de uma cabala cósmica e pressenti que algo de mau ia acontecer.


A verdade é que tinha razão. Quando cheguei a casa, percebi logo o que acontecera. Tinha sido assaltado. Mas cuidado, não foi um trabalhinho feito por amadores, pois não encontrei a casa virada do avesso e a fechadura nem um risquinho tinha. Em suma, um verdadeiro trabalho de artistas. Se à primeira vista, não me tinha levado nada, a verdade é que quando fui tirar a roupa da máquina de lavar, percebi que algo tinha desaparecido. Faltava-me uma meia. Para mim, O roubo da meia tinha uma mensagem clara, o ladrão estava a dizer-me: “Desta vez foi a meia, mas para a próxima pode ser muito pior!” isso é que não, não te deixarei roubar a minha colecção da Playboy. Aquele ladrão estava a desafiar-me e eu não tencionava perder o confronto.


Foi por isso que instalei um super fechadura com uma chave muito manhosa. Um dia, depois de regressar do trabalho, reparei que um pão não tinha miolo. Tinha sido o sacana do larápio que o tinha roubado. Mas para que? Percebi depois que com o miolo do pão, ele tinha feito uma cópia da chave. Mas como é que ele tinha entrado em casa? Só com um cúmplice. Mas quem? Só podia ter sido… o gato. Pouco expulsei-o.


Ninguém acreditava em mim, ou na suposta existência do bandido. Chegou mesmo uma altura em que desconfiava de todos. Para mim, todos eram cúmplices. Foi então que elaborei um super plano. Fui ao banco buscar todas as minhas poupanças e deixei-as em cima da minha cama e obviamente tive o cuidado de deixar a porta de casa aberta, assim era mais fácil apanhá-lo em flagrante de delito. Na rua gritei em alto e bom som, que onde estava o dinheiro. Horas depois, tinha sido outra vez assaltado, mas tinha saído vitorioso do combate. Finalmente podia comprovar a sua existência. Como? É simples, o estúpido tinha deixado cair o fruto do seu primeiro roubo, a meia, por baixo da máquina de lavar. Eu sou assim, ninguém me vence, e digo-vos mais: eu não sou paranóico.


Cabeça Suja…assaltado


M@rkito Copyright

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